quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Zé Mario recorda o título de 1977 (40 anos)

Entrevista de André Felipe de Lima
HÁ 40 ANOS: VEJA O QUE ZÉ MÁRIO  RECORDA DAQUELE JOGÃO ENTRE VASCO E FLAMENGO
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Zé Mário: “Tenho noção de quanto fui importante naquele jogo. Realmente fui o destaque”
ÍDOLOS — Além do prazer incomparável de levantar a taça de campeão de 77, que mais chamou sua atenção naquela noite, no Maracanã e por quê?
ZÉ MÁRIO - O Maracanã estava lotado. Realmente foi uma festa muito grande das torcidas. O Vasco mereceu o título por tudo que fez.
ÍDOLOS - Havia carros estacionados até nos arredores da Quinta Boa Vista. Uma verdadeira multidão. Como você compara os grandes jogos daquela época com os de hoje, no Maracanã?
ZÉ MÁRIO - A segunda coisa mais importante de uma partida de futebol é a torcida. A primeira, logicamente, é o jogador. Acho que futebol sem torcida perde o brilho. Antigamente os clubes viviam de bilheteria hoje vivem da TV. Em longo prazo, acho que haverá uma falta de motivação dos jogadores. A torcida empurra os jogadores. Eu ficava alegre quanto tinha muita gente assistindo o jogo na arquibancada.
ÍDOLOS - Um fato curioso naquela noite, nas arquibancadas: havia bandeiras do Botafogo na torcida do Vasco e do Fluminense na do Flamengo. Esse tipo de, digamos, “harmonia” e “parceria” nas arquibancadas não existe mais por que motivo?
ZÉ MÁRIO - Quando inventaram as Organizadas mudou a maneira de torcer. A arquibancada ficou violenta. Não dá para levar a família. O torcedor individual não briga. Só quando se organizam e saem fazendo baderna. É crime organizado infiltrado.
ÍDOLOS - O Jornal do Brasil assim destacou sua atuação naquela inesquecível noite: “Zé Mário: A eficiência costumeira. Protegeu a entrada da área e procurou deslocar-se sempre para receber a bola”. Já o jornal O Globo foi categórico: “Zé Mário, a perfeição no combate, mas uso e abusou das faltas. Mas todas necessárias e sem qualquer deslealdade. Fechou a entrada de sua área, cobriu os dois lados e chegou a fazer alguns lançamentos. Nota 10”. Você concorda com as análises?
ZÉ MÁRIO - Concordo. Tenho noção de quanto fui importante naquele jogo. Realmente eu fui o destaque. Não quer dizer com isso que levei o time nas costas. Todos foram excelentes, mas eu me destaquei um pouco mais.
ÍDOLOS - O mesmo jornal diz que Zanata estava fora de forma física e não esteve bem no dia. Helinho, que entrou no lugar dele, não alterou muito o panorama na posição. Você sentiu-se mais sobrecarregado para defender a cabeça de área e até mesmo poder distribuir o jogo na meia cancha? Afinal, já era suam missão ao longo da campanha cobrir os avanços do Orlando e do Marco Antônio, os dois laterais...
ZÉ MÁRIO - Não fiquei sobrecarregado porque se o Zanata estivesse realmente fora de forma ele fatalmente colocaria a experiência para fora. Era um grande jogador e companheiro. Sinto muitas saudades dele.
ÍDOLOS - Sua função era frear os avanços e armações do Zico e do Adílio. Foi essa a instrução do “Titio” Fantoni?
ZÉ MÁRIO - O Flamengo tinha um timaço. Estávamos preparados para frear qualquer jogada deles. É claro que o Zico e todos os outros eram perigosos e por isso dobramos a cautela e fomos mais felizes.
ÍDOLOS - Houve um lance, se não me engano aos 10 minutos da primeira etapa, você deu uma entrada no Zico, que definia você como um dos principais responsáveis pelo Vasco não tomar gols. A imprensa achou que você exagerou no lance. Você recorda a jogada? Poderia detalhá-la?
ZÉ MÁRIO - Eu nunca fui expulso de campo e deixei de jogar poucas vezes por cartão amarelo. Não me lembro da jogada em si, mas sempre entrei duro nos adversários, mas sempre com lealdade. Não tinha como querer machucar o Zico que é meu afilhado.
ÍDOLOS - Houve outro lance antes mesmo da dividida com o Zico. Foi aos quatro minutos. Você salvou o Vasco ao tirar uma bola em cima da linha, quando Mazaropi pegou uma bola chutada pelo Zico, mas largou-a praticamente nos pés do Osni (se não me engano), que, sem ângulo, centrou para área. Toninho, de bico, chutou com o gol vazio. Poderia falar mais sobre a jogada?
ZÉ MÁRIO - Me lembro também de ter salvado um gol desse tipo quando jogava pelo Flamengo num jogo contra o Vasco. Paguei com a mesma moeda dessa vez. (risos)
ÍDOLOS - Como o time reagiu ao desfalque de Ramon?
ZÉ MÁRIO - Ramon era a nossa válvula de escape pela esquerda enquanto o Wilsinho era pelo lado direito. Qualquer um que não jogasse, sentíamos falta. Só que também tínhamos reservas à altura que quando entravam davam conta do recado. Portanto sente-se a falta porque cada jogador tem a sua característica e é preciso entendermos isso para amenizar a troca.
ÍDOLOS - O que mais você lembra daquela noite, Zé Mário? E o dia seguinte?
ZÉ MÁRIO - Só felicidade. Comemoramos bastante. Não só pelo último jogo, mas pelo conjunto da obra. Foi um campeonato irrepreensível. O grupo todo comprometido por um objetivo.


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